No início da madrugada desta quarta-feira, 1 de julho, a Câmara dos Deputados derrubou o texto substitutivo da Proposta de Emenda Constitucional 171, de 1993, que previa a responsabilização penal de jovens a partir de 16 anos para crimes considerados hediondos.
A proposta obteve maioria absoluta favorável, mas, por se tratar de alteração do texto Constitucional, necessitava da chamada maioria qualificada, conferindo 3/5 das cadeiras, ou 60%, correspondendo a 308 votos. Com 303 votos a favor, 184 contra e 3 abstenções o projeto foi arquivado.
A exemplo das propostas de reforma política, discutidas recentemente, a Câmara optou pela manutenção das regras da sociedade brasileira. Enquanto a esquerda e as entidades de Direitos Humanos comemoram a decisão, 87% do país que é a favor da redução, segundo o Datafolha, assistiu à derrota de Eduardo Cunha e outros articuladores do projeto.
Aquilo que pode parecer não convergir com os "anseios da sociedade", é, na verdade, a representação do próprio meio político nacional. A título de exemplo, nas eleições legislativas de 2014, o país reconduziu à Câmara Federal 61,4% de seu quadro. Desde 1998, o percentual de renovação (eleição para primeiro mandato) da Casa fica entre 35% e 39% a cada escrutínio.
Baseados no desconhecimento da população e a irrelevância com a qual seus cargos são tratados, os parlamentares tendem a optar por evitar radicais mudanças nas bases da sociedade. A busca pela estabilidade em assuntos críticos e polêmicos é garantidor da permanência; tanto da estruturas sociais, quanto de seus cargos e postos.
Do lado do povo, a manutenção também é o praxe. Ainda que discursem em nome de uma eventual mudança, seu voto segue a lógica do continuísmo, no afã de que sua confiança é digna de sua representação pétrea. Continuam os mesmos, continuam as mesmas decisões.
Contra ou a favor dessa e outras decisões, é preciso ter ciência de que as ações do Congresso são reflexos das ações da sociedade. Seja em frente às urnas, seja no dia-a-dia.
Há cerca de um ano, o Corinthians vinha tentando renovar o contrato do atacante Paolo Guerrero, que se encerra no próximo 15 de julho. Chegou-se a dizer que o novo contrato estava pronto, mas, na hora H, uma troca de empresário, causou um novo imbróglio, que se encerrou nesta sexta-feira. O Corinthians desistiu da renovação de contrato e liberou o atleta para negociar com outro clube.
Desde a década de 30, o futebol deixou o status de esporte amador e profissionalizou-se. Com isso, o mercado da bola passou a ser definido de acordo com o poderio financeiro de cada clube. O dinheiro determina onde um atleta vai jogar. Guerreiro sairá do Corinthians por esse motivo. O jogador, que era desconhecido do futebol brasileiro até a chegada ao Parque São Jorge, valorizou-se por aqui e hoje pede o que acha que vale. O alvinegro paulista, com as contas quebradas, ofereceu menos. Sem acordo.
Guerreiro chegou ao Corinthians no meio de 2012, após a conquista da Taça Libertadores da América. Foi o cara da conquista do bi-campeonato Mundial da Fifa ao marcar dois gols no torneio: um contra o Al-Nasr e outro, na final, contra o Chelsea. Ganhou notoriedade no cenário brasileiro e respeito e admiração do torcedor corinthiano. Conquistou o status de ídolo do clube. Como ele, alguns outros escreveram seu nome na história do Corinthians.
Se pensarmos em um tempo recente, algo como 20 anos, mais ou menos - tempo que este blogueiro acompanha o esporte bretão com maior regularidade -, podemos elencar 5 nomes, ao menos, dignos de figurar no rol de ídolos corinthianos. Marcelinho Carioca, Edilson Capetinha, Tevez, Ronaldo Fenômeno e Paolo Guerrero. Ainda, há quem lembre de Emerson Sheik, fundamental na conquista da Libertadores 2012; Gamarra, Vampeta e Rincon; destaques no fim da década de 90, mas ficaremos com a primeira parte. Qual a semelhança entre esses nomes? Saídas conturbadas.
Lembro-me de um jogo, às vésperas do meu aniversário de seis anos, no qual um jogador chutou uma bola da intermediária e acertou o gol do Palmeiras. Saiu correndo, girando seus braços como se fosse hélices. Na semana seguinte ganhei minha primeira camisa oficial do Corinthians. Estampada nas costas estava o número 7. Número de Marcelinho Carioca. Esse é, para mim, o melhor que vi jogar com a camisa do Timão. Grande parte da torcida mais jovem também o considera assim. No entanto, mesmo após a conquista de títulos do Paulista, Brasileiro, Copa do Brasil e Mundial Interclubes da Fifa, foi preterido pela diretoria após briga com Ricardinho e saiu brigado com o clube.
Outro que viu turbulências em sua saída foi Edilson. O Capetinha era símbolo da raça corinthiana. Infernizava a vida dos zagueiros adversários e tirava onda. Levantou taças e conquistou a Fiel. Mesmo assim, foi a própria torcida que provocou sua saída após a eliminação na Libertadores de 2000. Eliminações na Libertadores, aliás, são sempre motivo de crise entre clube e ídolos. Tevez assistiu à semelhante história de Edilson, em 2006. Ronaldo Fenômeno também, em 2011.
Mesmo com as crises, nenhum deles perdeu o prestígio pela história construída e continuam sendo tratados como ídolos. Não é porque o Guerrero sai agora, apesar das críticas à sua pedida financeira, que o fez será apagado. Por outro lado, o caminho do time segue. O Corinthians continuará disputando e conquistando campeonatos. Ao Guerrero, boa sorte em sua carreira. O corinthiano é grato ao seu trabalho, mas o clube não pode se tornar refém de um atleta. Novos ídolos surgirão e, assim como os outros, escreverão seu nome na história do Sport Club Corinthians Paulista. De todo modo, o que foi feito, sempre será lembrado.
Em uma quarta-feira que começou com a desclassificação do Real Madri, atual campeão do mundo, na Champions League para a Juventus de Turim, os dois times paulistas dão adeus à Libertadores 2015. Junta-se aos desclassificados o Atlético Mineiro. Inter e Cruzeiro seguem às quartas-de-final.
Corinthians perde em casa para Guarani do Paraguai e dá adeus à Libertadores 2015 após 32 jogos de invencibilidade em Itaquera.
O Corinthians, que havia perdido a primeira partida por 2 a 0, no Estádio Defensores del Chaco, recebeu um Guarani disposto a não jogar bola. Pressionou o time paraguaio durante todo o primeiro tempo e criou boas chances com Jadson e Guerreiro. Pressionou mas nenhuma efetividade. Pouco para um time que precisava de três gols de diferença.
Na volta ao segundo tempo, com Danilo e Mendoza nos lugares do zagueiro Felipe e do atacante Malcon, o time se preparava pra jogar tudo em busca de, pelo menos, dois gols para levar o jogo aos pênaltis. Preparava-se pois, ainda no começo, Fábio Santos e Jadson foram expulsos por entradas absurdas nos visitantes. Com dois a menos o alvinegro recuou, esfriando o jogo.
Enquanto a partida se dirigia ao fim, com um Corinthians entregue ao insucesso e preparando o discurso para a desclassificação, o Guarani dava a cara ao jogo. Em um contra-ataque, no qual os donos da casa param de correr para pedir impedimento, aos 46 do 2º tempo, gol de Fernando Fernandéz, que acabara de entrar! Fim de papo. Corinthians eliminado após duas derrotas para o desconhecido Guarani do Paraguai.
No Mineirão
Diferentemente do Corinthians, que não foi feliz em sua casa, o Cruzeiro, que perdera o primeiro jogo no Morumbi por 1 a 0 para o São Paulo, fez a lição de casa. Com o time paulista apostando no contra-ataque, os donos da casa adiantaram seu time; mas pecaram na pontaria.
O segundo tempo começou com a mesma cara do primeiro. Depois muitos erros de mira, o Cruzeiro chegou ao gol com Leandro Damião. Após cruzamento de Mayke, Damião quase deixou a bola passar, mas conseguiu mandar pra rede. 1 a 0 para os mineiros. A fim de evitar a decisão por pênaltis, Milton Cruz colocou Luis Fabiano e Centurión no lugar de Pato e Wesley. O jogo esquentou mas não saiu disso. Pênaltis.
Com chutes desperdiçados por Luís Fabiano e Souza, pelo São Paulo, e Leandro Damião e Manoel, do lado do Cruzeiro, a disputa foi para as cobranças alternadas. O zagueiro sãopaulino Lucão bateu no meio e Fábio defendeu. Gabriel Xavier fez o seu. Cruzeiro classificado.
Enquanto isso, em Porto Alegre
Quem não tinha nada com os paulistas era o Internacional, que enfrentava pela segunda vez o Atlético Mineiro, precisando apenas não tomar gols, após o empate no Independência por 2 a 2, no jogo de ida. Com o apoio de um Beira-Rio lotado, o time gaúcho não deixou a vantagem inicial influenciá-lo e foi pra cima. E o Galo também.
Uma partida aberta, com as duas equipes buscando o gol, como deveria ser em todas. Tanto foi que o colorado encontrou dois golaços, ainda no 1º tempo, com o jovem Valdívia e o experiente D'Alessandro. No segunda etapa, foi a vez de Lucas Pratto diminuir para o Atlético. Enquanto o time mineiro buscava o segundo gol e tentava levar a decisão para a marca da cal, Lizandro Lopez fez o terceiro para os gaúchos. Fatura liquidada. Inter também vai às quartas-de-final da Libertadores 2015.
Noite de decisão para Corinthians, São Paulo, Cruzeiro, Atlético MG e Inter na Libertadores da América
Três jogos vão roubar a atenção de boa parte do país nesta quarta-feira. Será uma noite de ânimos a flor da pele para corinthianos, sãopaulinos, cruzeirenses, atleticanos e colorados. Seus clubes decidem hoje o futuro na Taça Libertadores da América de 2015. Entre os cinco, apenas o alvinegro paulista enfrenta uma equipe estrangeira. É também o time que tem situação mais delicada na competição. Após uma breve análise das partidas, alguns prognósticos podem ser feitos para a rodada desta noite.
Às 19h45, no Mineirão, o Cruzeiro recebe a equipe do São Paulo precisando da vitória. Após a derrota por 1 a 0 no Morumbi, em que o time da casa largou artilharia pesada para cima do goleiro Fábio, a equipe mineira promete ir pra cima. De olho no resultado, o Cruzeiro entra em campo para vencer e, com casa cheia e apoio de seu torcedor, deve levar a partida, mesmo com o tricolor embalado por três vitórias consecutivas. O São Paulo deve apostar no contra-ataque e joga por uma bola para seguir, por isso, abre espaço para os mineiros jogarem. 2 a 1 para os mineiros e classificação sãopaulina, pelo gol fora de casa, no critério de desempate.
Já em Porto Alegre, às 22 horas, o Internacional deve conseguir a classificação com um empate por 1 a 1 com o galo mineiro. Mesmo após um jogo com muitas oportunidades em Minas Gerais, terminado em 2 a 2, a partida de hoje à noite, no Beira Rio, promete dois times estudando o adversário e um Inter disposto a não tomar gols. Do lado do Atlético, apesar de um poderoso ataque, liderado pelo argentino Lucas Pratto, vê em sua defesa uma sequência de vacilos que custam-lhe a vitória, como no último jogo contra o Palmeiras pelo Brasileirão. Uma ótima oportunidade para Alex, Valdívia, D'Alessandro e cia.
Também às 22 horas, na Arena Corinthians, o alvinegro recebe o paraguaio Guarani precisando de uma vitória por três gols de diferença para seguir na Libertadores. Depois de uma partida em Assunção, capital do Paraguai, na qual o time vacilou e saiu vencido por 2 a 0, Tite promete uma equipe ofensiva, abusando do poder de armação de Elias, Jadson e Renato Augusto, junto a Malcon e Guerrero no ataque. O Guarani só precisa se preocupar em não levar gols e deve jogar fechado. Com o apoio da torcida e um gramado que faz a bola rolar mais rápido que o Defensores Del Chaco, a equipe corinthiana, que não perde há 32 jogos em Itaquera, tem tudo para reverter o placar e aplicar 4 a 0 sobre o plantel paraguaio.
E você, tem seu palpite???
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é principal articulador do projeto de
Reforma Política e ameaçou correligionário, caso não incluísse suas propostas
Enquanto boa parte dos brasileiros acompanhavam a classificação do Barcelona à final da Champions League, o deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI) apresentava à Câmara a proposta de reforma política elaborada a mando do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seu partido como resposta aos protestos de rua.
Entre os principais pontos do relatório estão a mudança no sistema de eleição para deputados e vereadores, chamado "Distritão", o fim da reeleição para cargos do Executivo, a unificação das eleições municipais, estaduais e federal, e a clausula de barreira, que dificulta o funcionamento de partidos "nanicos", além de alterações no programa de financiamento de campanha, mantendo a possibilidade de doações de empresas.
Com propósito de agradar a população e os recentes protestos, o projeto apresenta controversas em sua concepção, apontando mais uma vez que o pensamento dos congressistas segue dissonante com os anseios da sociedade. A princípio, o projeto que prevê o fim das eleições proporcionais para cargos legislativos - quando o número de cadeiras é dividido pelo número de votos que cada partido ou coligação teve - ao substituí-la pelo voto majoritário direto - quando elegem-se aqueles que obtiveram maior número de votos em um distrito.
Inspirado nos modelos das democracias inglesa e norte-americana, a proposta carrega em si uma diferença essencial, e aqui é preciso explicar. Em vez de se dividir um Colégio Eleitoral em distritos menores, conforme o número de cadeiras disponíveis, e cada distrito eleger seu deputado - algo que aproximaria o eleito à sua comunidade -, na proposta do PMDB, todos os candidatos disputam todas as vagas, formando o "Distritão". No mundo, apenas a Jordânia e o Afeganistão utilizam esse modelo. Até o relator do projeto, o piauiense Marcelo Castro, já se declarou contra o modelo, mas cedeu à pressão de Eduardo Cunha, que ameaçou tirá-lo da relatoria caso a ideia não seguisse conforme seu desejo.
Como se essa metodologia confusa não fosse suficiente, o projeto ainda mantém o financiamento empresarial de campanha, apontado como uma das principais causas de corrupção pública no país. A proposta apenas indica que as doações de empresas devem ser feitas aos partidos, e não mais aos candidatos. Ocorre que, de uma forma ou de outra, esse dinheiro é utilizado para eleger um ou outro, que depois será o responsável por recompensar os doadores.
Para sacramentar a balburdia apresentada por projeto, foram capaz de bagunçarem na única proposta que se aproxima ao discursos dos protestos, que versa sobre o fim da reeleição. A ideia, bastante parecida com a de Marina Silva, inclusive, prevê mandatos de cinco anos para os cargos do Executivo, a partir de 2018, sem a possibilidade de ser reconduzido ao cargo na eleição subsequente. Até então, a proposta vai ao encontro dos anseios apresentados nos recentes protestos.
Mas, como tudo aqui tem que ter as trapalhadas de Cunha, no mesmo item, propõe-se que todas as eleições, para municípios, estados e União, sejam feitas simultaneamente. Com isso, os prefeitos eleitos nas próximas eleições, em 2016, teriam apenas dois anos de mandato. Outro problema acarretado pela unificação é a relativização dos cargos postulados e a concentração do debate aos cargos majoritários. É sabido que a população pouco leva a sério a eleição para o Legislativo. Poucos se lembram qual foi seu último voto a deputado ou vereador. Inflar o numero de cargos a serem escolhidos por pleito levará a ainda mais displicência no momento de decisão.
É preciso lembrar que esse projeto de reforma é autoria exclusiva do Congresso, com influência maciça de Eduardo Cunha e Michel Temer, como exaltou ontem o relator Marcelo Castro, no programa Roda Viva da TV Cultura. A julgar por essas ações, e a força que os peemedebistas tem na Câmara, está evidente que os deputados ainda não aprenderam a captar a voz das ruas. Ou não querem.
Atual líder do ranking mundial, Mineirinho venceu a bateria e garantiu vaga na terceira fase do Oi Rio Pro - Foto: Kelly Cestari/WSL
A chamada "Brazílian Storm" (tempestade brasileira) mostrou que não está afim de fazer feio em casa. Na primeira fase do Oi Rio Pro, etapa brasileira do circuito mundial de surf de elite, realizada hoje, 12 de maio, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, seis brasileiros garantiram vaga no terceiro round da competição. Wiggolly Dantas, Gabriel Medina, Ítalo Ferreira, Adriano de Souza (Mineirinho), Jadson André e Filipe Toledo terminaram com a primeira colocação em suas baterias e aguardam a definição de seus oponentes na repescagem, que acontece na segunda fase.
O primeiro brazuca a entrar na água foi Wiggolly Dantas, na 3º bateria. Com as notas 7.47 e 8.50, totalizando 15, 97, o surfista desbancou o havaiano John John Florence (10.66) e o norte-americano C.J. Hobgood (9.94). Em seguida, foi a vez do atual campeão mundial de surf, Gabriel Medina, derrotar o havaiano Freddy Patacchia Jr (7.77) e o também brasileiro Alejo Muniz (4.90). Com um 12.33 (5.33+7.00) Medina levou a bateria.
Torcida brasileira dá apoio ao campeão mundial, Gabriel Medina na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro - Foto: Kelly Cestari/WSL
As duas disputas seguintes também foram dominadas pelo "Brazilian Storm". Na quinta bateria, o tri-campeão mundial, australiano Mick Fanning (9.33), e o brasileiro Alex Ribeiro(2.47), que participa pela primeira vez de uma etapa da elite, foram derrotados por Ítalo Ferreira. O surfista precisou de um 14.07 (7.00+7.07) para seguir à terceira fase, que também tem garantida a presença do atual líder do ranking de 2015. Adriano de Souza, o Mineirinho, que venceu a última etapa do circuito mundial em Margaret River, na Austrália, conseguiu uma das melhores notas por onda na primeira fase. Um 9.73, que somado ao 8.17, totalizou 17,90, mais do que suficiente para deixá-lo na primeira posição da sexta bateria contra o australiano Kay Otton (11.60) e o brasileiro David do Carmo (5.67).
O quinto brasileiro a passar pra terceira fase foi Jadson Andre. Na sétima bateria, o surfista desbancou o australiano Josh Kerr (11.97) e o havaiano Dusty Payne (10.03) ao somar 14.04 pontos com as notas 6.27 e 7.77. Outro brasileiro com uma excelente nota foi Filipe Toledo. Somou seu 6.57 ao 9.70 da segunda onda e garantiu a primeira posição da décima bateria com 16.27. Seus adversários, o norte-americano Kolohe Andino e o australiano Adam Melling somaram 11.90 e 8.40, respectivamente.
11 vezes campeão, Kelly Slater pega um tubo na primeira fase do Oi Rio Pro 2015 - Foto: Daniel Smorigo/WSL
Quem também se destacou na primeira fase do Oi Rio Pro foi o surfista norte-americano Kelly Slater. Detentor de 11 títulos mundiais, Slater somou 19.27 pontos com as notas 9.50 e 9.77 em duas ondas excelentes. Além dos seis brasileiros e do undecacampeão, garantiram-se na terceira fase da etapa brasileira do mundial de surf o francês Jeremy Flores (12.17), o havaiano Sebastian Ziets (12.06) e os australianos Debe Durbidge (14.84), Matt Banting (9.76) e Matt Wilkinson (14.96).
O Oi Rio Pro segue até dia 22 de maio. Os surfistas que não conseguiram a classificação na primeira fase disputam a repescagem na fase seguinte em baterias com dois surfistas cada.
Imagine um jantar com políticos e grandes empresários do país. Uma cena mais comum do que se pode imaginar. Reuniões desse tipo acontecem muito antes da Proclamação da República. Não há nada de ilegal nisso. Contudo, dependendo dos personagens envolvidos, a maneira de dar a notícia muda. Veja a imagem abaixo.
Alerta: essa manchete é falsa. Uma sátira de como o jornalismo brasileiro se porta conforme o personagem.
A colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, publicou na última sexta-feira, a reunião promovida pelo atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com políticos e empresários a fim de promover sua campanha à Presidência da República em 2018. A manchete "Pré-candidato, Alckmin reúne PIB em jantar no Palácio dos Bandeirantes"indica o prestígio do político ao reunir alguns executivos das maiores empresas do Brasil, responsáveis por grande parte da produção nacional.
Nota-se na matéria que entre os empresários estão Marcelo Odebrecht e Jorge Gerdau. O primeiro é executivo da empreiteira Odebrecht, denunciada pelo Ministério Público Federal na Operação Lava-Jato, escândalo de corrupção envolvendo esquemas de propina para contratos com a Petrobras. O segundo responde pela empresa de aço Gerdau, investigada na Operação Zelotes, da Polícia Federal, que apura esquemas de fraudes fiscais milionárias. No texto, não há nenhuma referência a isso.
A bem da verdade, como já disse no início deste artigo, reunião de políticos com empresários é algo bastante comum. Não há nenhum crime nisso. A questão a ser observada é quanto ao tratamento que a grande mídia dá a um ou outro personagem. Façamos um exercício de suposição, no qual, em vez de Alckmin, o promotor do jantar fosse o ex-presidente da República, Lula, também pré-candidato, à sucessão de Dilma em 2018. Como será que seria a manchete da notícia de um jantar entre Lula e os mesmos empresários, com fins de promover sua candidatura para as próximas eleições nacionais?
Apesar de tudo, minha mãe acha que a Globo defende o PT
Um outro exemplo segue em uma conversa despretensiosa entre este blogueiro e sua mãe. Assistindo ao SPTV 2ª edição, noticiário local da TV Globo, vemos uma reportagem sobre o descarte ilegal de lixo na cidade de São Caetano do Sul, na Grande SP. Um fato relevante que certamente deve ser noticiado. Mas algumas coisas foram possíveis de serem observadas. Durante os quase cinco minutos de vídeo, o repórter indica que a prefeitura respondeu; que a prefeitura já retirou o lixo do local; entre outras ações da prefeitura.
Em nenhum momento foi citado o nome ou partido do prefeito.
Ao fim da reportagem, perguntei para minha mãe sobre qual partido ela achava que o prefeito de São Caetano do Sul pertencia. Sua resposta foi taxativa: PT. Perguntei então se ela havia ouvido o nome do prefeito e seu partido durante a reportagem. Respondeu-me com a negativa já esperada. Por fim, questionei-na o por quê ela acreditava que o chefe do Executivo daquela cidade era do PT. Disse-me que a Globo defendia o PT e que por isso omitira a legenda. Falei então que, apesar de eu não saber a qual partido o prefeito pertencia, tinha certeza que ou era PSDB ou PMDB e que se fosse do PT, o nome do partido teria aparecido, pelo menos, três vezes na reportagem. Ela, com desdem, duvidou. Após uma pesquisa na internet, a confirmação: Paulo Pinheiro é do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Uso esse exemplo para mostrar como a forma de dar a notícia influi na concepção do público leigo, que não vivencia o jornalismo ou a política. O repórter noticiou o fato de haver descarte de lixo em local indevido. Não havia ali nenhuma mentira. No entanto, a maneira como uma notícia foi tratada, reflete em como a sociedade enxerga sua volta. Alguns dias depois de nossa conversa, minha mãe voltou ao assunto, dizendo que, em uma outra reportagem, percebeu o que eu havia dito. Ao tratar de um problema em um hospital da cidade de Osasco, administrada pelo PT, o nome da legenda apareceu na notícia mais de uma vez, segundo ela. Essa percepção só foi possível após um diálogo que nem todos tem em suas casas, no trabalho ou no botequim. Assim, a mídia versa com a sociedade à maneira que mais lhe convém.
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Ps. Repito mais uma vez, para que não pareça que a ideia aqui é defender o PT: reunião entre empresários e políticos, como Alckmin o fez, é um evento extremamente comum. Não há crime ou contravenção nisso. O aspecto a ser observado nesse post é quanto à condução da imprensa ao tratar de um ou outro personagem.
Ônibus incendiado em ataques do PCC, em 2006. Nove anos depois, população de Cotia é aterrorizada
Desde as 9 horas da noite de hoje, 30 de abril, o serviço de transporte público de Cotia está suspenso. O motivo é um toque de recolher emanado por supostos integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), divulgado e compartilhado via Whatsapp e redes sociais pela cidade e região.
Além dos ônibus, a população também se recolheu às suas residências, alardeada pela promessa de "Rodo Geral" realizada pelos autores das mensagens em retaliação à morte de uma mulher, supostamente ligada a facção.
Nos grupos da cidade no Facebook, a revolta da população para a situação de terror promovida pelo toque de recolher recai sobre o prefeito do município, Carlão Camargo, do PSDB, sob acusação de leniência para com o crime organizado. Acusam-no de estar na segurança de seu condomínio assistindo ao pavor dos cidadãos, abandonados à própria sorte nas ruas, sem transporte para chegarem em casa e se esconder. Assim como em muitos outros casos, o povo dá provas, mais uma vez, que não sabe diferenciar as responsabilidades das esferas de poder.
Se recobrarmo-nos um pouco a memória, lembraremos que há nove anos, às vésperas do Dia das Mães, um outro toque de recolher provocou pânico em todo o Estado. Também ordenado pelo PCC, o "Salve Geral" de 2006 foi responsável por ataques de armas de fogo e coquetéis molotov a bases da polícia, delegacias e viaturas. Mas também a civis que, nas ruas, foram surpreendidos pelas rixas do crime organizado e a organização do Estado.
O mais atento lembrará que o governador à época, responsável pela Segurança Pública, atendia pelo nome de Geraldo Alckmin, também do PSDB. O mesmo senhor calvo, dono de um característico nariz avantajado, médico por formação, católico fervoroso, austero e pai de família exemplar que hoje diz que não há falta d'água, que não há greve dos professores e que o crime organizado não existe, assistiu situação semelhante ao fim da sua primeira passagem pelo Palácio dos Bandeirantes.
O governador que foi reeleito no primeiro turno em 2014 é o mesmo que há nove anos viu o PCC promover seus atos de terrorismo no Estado e que não foi capaz de desmantelar a maior facção de crime organizado de São Paulo. A população de Cotia, que hoje vocifera e escarneia contra o prefeito - de maneira efêmera, é verdade -, tem votado ano-a-ano de maneira maciça no partido do governador, tanto do âmbito estadual, quanto em âmbito municipal, que é dominado desde o ano 2000 pelos tucanos.
A verdade é que, assim como a frase "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", escrita por Antoine de Saint-Exupéry em "O Pequeno Príncipe", as escolhas políticas que fazemos refletem na nossa vida em sociedade. A leniência para com o crime não é de responsabilidade exclusiva do governador (ou do prefeito, como alguns acreditam), mas também da sociedade em geral, que optou pela manutenção do programa.
Agora que a primeira fase da nossa jabuticaba futebolística, o Campeonato Paulista, terminou, podemos analisar o quão incoerente é essa fórmula bizarra deste torneio também bizarro.
O Corinthians classificou-se para o mata-mata como o time de melhor campanha, com 37 pontos conquistados. Obteve mais que o dobro de pontos do pior time classificado, o XV de Piracicaba, que acumulou 17 tentos durante as 15 rodadas.Vai enfrentar nas quartas de final, no entanto, o melhor segundo colocado, ou quinto no quadro geral, Ponte Preta, com 27 pontos em sua conta.
No mesmo grupo de Corinthians e Ponte Preta, dois times conseguiram acumular mais pontos que o próprio XV. Audax e São Bento somaram 22 e 21 pontos, respectivamente, em suas campanhas e não se classificaram. Ainda, Mogi Mirim, Ituano e São Bernardo com 20, 20 e 18 pontos, respectivamente, concluíram campanhas melhores que a do simpático 'Nho Quin' e, mesmo assim, ficaram de fora do mata-mata.
Por outro lado, na zona de rebaixamento, outra discrepância é encontrada. O Clube Atlético Penapolense, que inciou a rodada com chances de classificação, terminou sua partida com passagem definida para a série A-2 em 2016. Nesse caso, independente do grupo, as piores campanhas definem os clubes rebaixados.
Já está mais do que claro que existência de campeonatos estaduais em geral, com a participação dos grande clubes do país é um erro. Para piorar as federações estaduais criam fórmulas ainda mais incongruentes para executar esses torneios. O regulamento do Paulistinha 2015 é a maior aberração do futebol. Clubes como Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo não podem continuar aceitando tais invenções absurdas como essa. Tudo caminha para outro cenário. A maior questão não é mais se, mas quando isso mudará.
Acontece em 21 de março, às 10h, a aula inaugural da terceira turma do Cursinho Pré-Vestibular de Cotia na Escola Estadual Zacarias Antônio da Silva, no Parque Bahia. O curso, promovido por estudantes da USP (Universidade de São Paulo) e membros do coletivo Juventude LibRe, é voltado ao público geral interessado em prestar vestibular no fim do ano. As inscrições serão feitas no início do primeiro encontro.
Não há cobrança de taxas ou mensalidades para frequentar o curso. Segundo Wesllen de Souza, coordenador do projeto, "as vagas são abertas conforme demanda e não existe processo seletivo para o ingresso, pois o processo seletivo já seria uma barreira, aos moldes do vestibular". A aulas acontecem aos sábados e domingos das 10 às 16 horas.
O Cursinho Pré-Vestibular de Cotia é realizado desde 2013 por universitários voluntários dentro do programa Escola da Família. De acordo com a página do projeto no Facebook, a iniciativa aconteceu em função do baixo número de estudantes da escola pública que conseguem o ingresso no ensino superior público. Nos dois primeiros anos o curso atendeu 90 alunos, em média.
Serviço
Cursinho Pré-Vestibular de Cotia
Onde: E.E. Zacarias Antônio da Silva
Rua Alga Marinha, S/N, Pq. Bahia - Cotia-SP
Quando: Sábado - 21/03
Quanto: Grátis
Mais informações: facebook.com/CursinhoPreVestibularDeCotia
Hoje eu lembrei do dia em que um motorista de ônibus, discutindo comigo sobre meu direito de embarcar com uma lata de cerveja disse:
"Se ainda fosse um cidadão, mas não, é um moleque."
Eu, no auge dos meus 22 anos de idade, com aparência de 15 não podia ser considerado um cidadão pelo nobre condutor do transporte público. Com uma bermuda, uma camiseta regata e uma mochila nas costas em um domingo de sol, eu era apenas um "Zé Ninguém". Ele disse que chamaria a polícia se eu continuasse insistindo. A partir daquele momento, quem disse que chamaria a polícia, e chamei, fui eu.
Tem gente que acha que só porque você é jovem, não tem os mesmos direitos que uma pessoa mais experiente. Julgam-te sem ao menos saber da sua experiencia; da sua vivência. E, na verdade, indiferente da experiência de cada um, todos somos cidadãos e temos os mesmos direitos.
Sobre o motorista? A partir do momento em que disse isso, percebeu a grande encrenca que se meteu. Basicamente calou-se quando a polícia chegou. Em meio a conversa, terminei minha latinha de cerveja e segui viagem. E ele ainda disse que eu não poderia tomar cerveja em seu ônibus (rsrs). Talvez, se eu fosse apenas um moleque, como ele mesmo disse, teria desistido. Para seu engano, independentemente da idade, todos somos cidadão.
Aquela quarta-feira de outubro começou como qualquer outra. Seria algo corriqueiro, não fosse por um simples motivo: seis horas depois eu embarcaria para a viagem mais longa da minha vida até o momento. Sempre viajei de ônibus pelo Brasil. Atrás de jogos do Sport Club Corinthians Paulista, já percorri os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás. Alguns por mais de uma vez. Também uma visita ao estado catarinense na formatura da oitava série escolar. Não imaginara o quando esta nova aventura seria importante para o meu crescimento; como da janela de um ônibus é possível enxergar além do que se vê. Não apenas o estado físico, mas a alma de um local.
A viagem de São Paulo a Lima, capital do Peru, foi concebida muito antes de ser efetivada. Estava eu envolto aos meus pensamentos solitários, em uma madrugada de abril, quando a questão do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da faculdade de Jornalismo surgiu em minha mente. Precisava decidir o que fazer. Algo que fosse ao mesmo tempo possível ser realizado em um tempo escasso, e com apenas minha participação, mas desafiador e incomum. Repentinamente, veio-me a ideia conhecida há cerca de três anos: vou contar a história da viagem ônibus até o Peru. Havia conhecido-a em uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo de agosto de 2011 e disposto-me a encará-la. Agora era a hora de por em prática este desafio. Um adendo: não iria a passeio.
Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia com
registro da vacina contra Febre Amarela e Passaporte brasileiro
Os quatro meses seguintes foram de pesquisas sobre o assunto e processos de viabilização do projeto. Em conversas com colegas (e até desconhecidos) percebi que o conhecimento desta modalidade viagem até Lima era quase nulo, o que deixou-me mais animado para criar meu documentário. Criei uma página no Facebook para divulgação do projeto e acompanhamento da produção. Com a grana curta, promovi uma campanha de crowdfunding [financiamento coletivo] de modo a viabilizar a proposta financeiramente. Ainda que uma prática ainda incomum no jornalismo, consegui arrecadar cerca de 35% do planejado para a execução deste TCC. Passaporte em mãos (ainda que não seja necessário), vacinação contra a Febre Amarela, passagem adquirida, câmeras, pilhas, bloco de anotações, mochila... Vai lá, André!
Um misto de indiferença e medo tomava conta da minha cabeça do momento que saí de casa até a hora que cheguei ao Terminal Rodoviário do Tietê. Será que vai dar certo? E agora? Ah, vai ser tranquilo. Não tem erro. Mas e se não der? Só tenho uma chance. Não tem mais volta, é agora ou agora! Aquela uma hora e meia no saguão de espera antes do embarque pareceu-me uma eternidade. Com 30 minutos para seguir, fui à plataforma. Um caldo-de-cana para quebrar o gelo e retiro a câmera da mochila. Antes mesmo de entrar no ônibus já fazia imagens e despertava a curiosidade dos demais passageiros. Não demorou para que eu começasse a conversar com os novos companheiros de viagem.
Na Estrada
Sentado ao primeiro banco do setor superior do ônibus, uma placa de vidro era o que me separava do mundo lá fora. Uma visão panorâmica dessa aventura que iniciava-se no maior terminal rodoviário do brasil. Entre as 90 mil pessoas que circulam diariamente no Tietê, 23 acabavam de embarcar na maior linha que dali parte. 5.917 Km de estrada era o que estava a nossa frente. A poltrona livre ao meu lado não demorou para ser ocupada por um gaiato que, mesmo com sua passagem denunciando não ser aquela sua reserva, não deixaria escapar a oportunidade de lugar privilegiado no veículo, com vistas para a infinidade de experiências que estavam por vir. Seu nome: Luis Alberto. Peruano de 45 anos de idade, dos quais, quase 30 dedicados ao serviço missionário da Igreja Adventista do Sétimo Dia pela América do Sul.
Ao passo que o concretude paulistana cedia lugar ao verde interiorano, sr. Luis contava-me curiosidades de seu país e ensinava-me certos vocábulos em castelhano. Do outro lado do corredor, outro peruano (o qual confesso que não consegui guardar o nome, por era um tanto quanto peculiar) e sua namorada, Thaís, brasileira que iria conhecer a pátria de seu companheiro pela primeira vez. Enquanto nós quatro conversávamos à primeira fileira dos 46 assentos dispostos no veículo, a realidade do restante do ônibus não era diferente. A interação entre os passageiros é construída de forma natural, de modo que, durante as primeiras horas da viagem, todos ali trocavam experiências e expectativas.
Pôr do sol na rodovia Castelo Branco (SP)
O primeiro pôr do sol, ainda em terras paulistas, foi um momento de contemplação de tudo que eu tivera feito até o momento. Aquela primeira aula de Jornalismo; as narrativas em aulas de redação; o sr. Jorge da praça Benedito Calixto e seu "Museu da Voz"; as discussões políticas e sociais com colegas e professores, em sala ou no boteco; as aulas da "tia" Nadia, minha ex-chefe e madrinha de formatura; a corrida pela grana; a confiança de quem apostava no sucesso; tudo. Naquele momento, aquelas experiências eram canalizadas em um propósito maior. Levar à sociedade uma experiência sobre as condições encontradas pelo interior do Brasil, do Peru, da América do Sul, ao ser transportado em um ônibus, era efetivação do projeto de ser jornalista.
Após 6 horas e meia, fizemos a primeira parada para o jantar, por volta de 10h da noite, na cidade de Maracaí (SP). Ali foi o momento de conhecer mais pessoas e saber um pouquinho de cada uma. Família retornando a casa. Um jovem que queria sair da sua zona de conforto e conhecer novos lugares, outro que chegara a poucos dias da Argentina e, agora, iria a Cusco, comerciantes de mercadorias adquiridas nas regiões de comércio popular da cidade de São Paulo. Cada qual com sua história, mas muito semelhantes em sua essência.
Às 5 e meia da manhã do segundo dia, o sol despontava à leste da capital sul-mato-grossense , Campo Grande. Pelas estradas que cortam o Centro-Oeste brasileiro, pensar na música de Luiz Gonzaga, Vida de Viajante, é praticamente inevitável. Os versos "minha vida é andar por esse pais, pra ver se um dia descanso feliz, guardando as recordações das terras onde passei, andando pelos sertões e os amigos que lá deixei" preenchiam minha mente entre uma e outra paisagem. Cilos de grãos a perder de vista, enormes criações de gado, pequenas cidades e uma faixa de asfalto repartida por traços de tinta amarela, hora continua, hora seccionada, conduziam-me à uma realidade completamente distinta da São Paulo cosmopolita corriqueira em um cenário por vezes bucólico, por vezes intrigante e, definitivamente, apaixonante.
Claro, nós podemos!
Pastagens de criação de gado no Centro-Oeste
Assim foi por toda a quinta-feira. De Campo Grande a Cuiabá, cerca de 700 Km concluídos no fim da tarde. O cansaço da viagem começa a ficar aparente. Enquanto nas três telas de led do ônibus, filmes distraiam alguns, outros aproveitavam para dormir um sono frequentemente interrompido pelas ondulações e irregularidades da estrada. Duas paradas nesse intervalo. A primeira, ainda pela manhã, serviu apenas para um banho e escovar os dentes, além de esticar as pernas fora do ônibus. Nem café havia na lanchonete.
Parada para almoço em Mato Grosso
À tarde, por volta das duas, já no estado do Mato Grosso, um merecido almoço. Em um restaurante isolado na aridez da beira da estrada, coma a vontade por 13 reais. Uma garrafa de coca-cola, dividida por outros viajantes, custou-me mais 1 real no rateio. Na capital, a Polícia Federal Rodoviária realiza uma parada inesperada. Estão fiscalizando possíveis casos de tráfico de drogas, de crianças, além de fugitivos da Justiça. Tudo certo com todos, seguimos em frente. Paramos novamente à noite, para o jantar, na cidade de Cáceres (MT). Para mim, apenas um refrigerante.
Almoço às 9 da manhã
Mal havíamos ingressado no estado de Rondônia, já no terceiro dia, o motorista encostou em uma parada na cidade de Pimenta Bueno. Diferentemente dos improvisos do Centro-Oeste, aquele era um lugar conhecido dos condutores e os atendentes do restaurante, acostumados a servir o almoço àqueles passageiros independente do horário. Uma mesa de self-service com oferta ilimitada por R$ 15,00. Quase todos serviram-se com pratos incrivelmente cheios. O motivo: a próxima oportunidade de se alimentar seria apenas à noite. São raras as situações em que como algo pela manhã. Soube da opção de fazer um prato mais modesto, com cobrança por quilo, que custou-me oito reais e cinquenta centavos. No sub-solo, o banheiro dispunha de chuveiros individuais, mas não por muito tempo. Em um lance de oportunismo, corri ao banho antes de "almoçar" e quando retornei com o equipamento de filmagem a realidade era outra: chuveiros e torneiras secas.
Pimenta Bueno (RO)
Diferentemente dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em Rondônia existem muitas cidades que podem ser consideradas grandes. Surpreendi-me, positivamente, com lugares como Cacoal, Ji-Paraná, Ariquemes e a própria capital rondonense, Porto Velho. Talvez por ignorância, ou preconceito, não imaginava lugares desenvolvidos à essa maneira na região amazônica. Que bom que o Brasil é capaz de provar que em sua imensidão, existem surpresas gratificantes. Mas não é só isso. Em Rondônia, também, foi bem possível conhecer um interior brasileiro muito precário. O subdesenvolvimento é bastante comum em comunidades dependentes da agropecuária, onde quem reúne as riquezas é somente o proprietário e muitos sobrevivem em pequenas cabanas em vilarejos de beira de estrada.
Mais um pôr do sol brindou-nos após mais da metade do trajeto percorrido. A planície amazônica, às margens do Rio Madeira, levou-nos à cidade de Jacy-Paraná (RO), onde foi realizada a segunda parada para alimentação do dia. O forte calor somado à alta umidade da região era razão mais do que suficiente para recorrer ao ar-condicionado do restaurante sem pestanejar. Sem contar a quantidade de mosquitos e pernilongos que rondavam sem cessar aqueles que ousavam aventurar-se nas ruas da pequena cidade.
Fim da Estrada
Alguns quilômetros à frente, é chegado um dos momentos mais aguardados por mim na viagem. Próximo à cidade de Abunã (RO), a BR-364 dá lugar à travessia do Rio Madeira que é realizada de balsa. Eram 10 da noite e a escuridão permitia-nos enxergar apenas um refletor na outra margem do rio e as luzes da embarcação. Imagino que se fosse de dia, a experiência seria melhor, mas, obviamente, atravessar um dos maiores rios do país, foi algo extremamente prazeroso. Durante uma hora, entre um e outro lado do Madeira, senti na pele a natureza única da nossa Amazônia. A partir dali, a mesma BR-364 segue rumo ao estado do Acre.
Aguardando a chegada da balsa
Travessia sobre o Rio Madeira
Travessia sobre o Rio Madeira
Chegado o quarto dia de viagem, faltava pouco para chegarmos à fronteira entre Brasil e Peru. Abandonada, a propósito. Além de três agentes da polícia federal, dentro de uma sala fechada na Alfândega, um segurança particular e uma mulher responsável pela limpeza do prédio. Nada além disso na fronteira conhecida recentemente pela entrada ilegal de haitianos no país. Carros brasileiros e peruanos vão e voltam sem nenhum problema. Da parte burocrática quase nenhum problema. Somente Jorge, um dos viajantes, teve que pagar uma taxa de 800 reais por exceder o período permitido para sua estada no Brasil. Da minha parte, a realização de um sonho. Depois de 25 anos, pela primeira vez eu estava indo além das terras brasileiras. Uma cultura diferente, língua e costumes que até então conhecia apenas na teoria. Um coração batendo mais forte neste momento.
Prato de pescado com Inca Kola na cidade de Iñapari (Peru)
Depois de algumas centenas de metros pela Ponte da Integração, lá estava eu: República do Peru. Diferentemente da pacata Assis Brasil (AC), na cidade de Iñapari a fiscalização da polícia peruana era mais rígida e, às voltas do posto de imigração, pequenos comércios garantiam os insumos para quem chegava desprevenido à terra nova. Foi lá também onde tive contato pela primeira vez com a comida peruana. O prato de Pescado consistia em uma porção de arroz sem sal e tempero, uma salada de cebola e repolho e meio peixe cuja maior parte consistia na cabeça do animal. Bora encarar! Também a Inca Kola, refrigerante dono de 70% do mercado peruano, segundo aquele passageiro que estava com a namorada (Thaís) que não lembro o nome. Foi em Iñapari que troquei alguns dos meus Reais pelo Novo Sol peruano, moeda local. Taxa de 1.11 para cada Real com Lavínia, que desde São Paulo seguia viagem conosco. Mais vantajoso para aqueles que levaram Dólares, cuja taxa estava em 2.80 por 1.
Um olhar para a vida
Barracos sob palafitas próximo à cidade de
Puerto Maldonado, no Peru
Durante os três dias de viagem pelo interior brasileiro, fiquei realmente impressionado com a grandeza e diversidade de nosso país. Existe muita desigualdade e muita riqueza espalhadas em solo nacional. Essas discrepâncias, no entanto, em nada se comparam ao iniciar a incursão pelo país vizinho.
A Amazônia Peruana é definitivamente um lugar de contrastes e precariedade. Não são raros os momentos em que o verde da floresta cede lugar às cinzas de uma vegetação morta por queimadas e extração ilegal de madeira. Um pedaço de nosso meio ambiente que é ceifado diariamente por extratores que nada pensam além do lucro predatório. Existem ainda aqueles que lançam-se à sorte da vida em busca de riqueza mineral nas zonas de garimpo na região. Aos trabalhadores ali postados, resta empoleirarem-se em edificações sob palafitas dispostas ao longo da rodovia. Construídas com madeira e lona, abrigam ainda comércios como mercadinhos, restaurantes e hotéis, cuja infraestrutura e o saneamento são praticamente nulos.
Hotel feito em lona na região da Amazônia Peruana
Comércios e hospedarias sob palafitas na Amazônia Peruana
Para mim, este foi o maior choque de realidade possível. É importante termos algumas experiências adversas para, de algum modo, aprender consigo. A imagem daqueles barracos amontoados ficou marcada por todo o restante do caminho; e fica até hoje, sempre que penso como o mundo é desigual. Como o individualismo social é capaz de relegar pessoas a condições extremamente sub-humanas. As vezes é preciso enxergamos a realidade de fora para entender que aqui do lado as coisas não são tão perfeitas. Por outro lado, essa situação soou para mim como um start, para duas coisas, mais especificamente. A princípio, dar valor à condição que tenho atualmente. Apesar de não ser dos mais abastados, compreendi que sou um privilegiado e que as pessoas que estão a minha volta são importantíssimas para esta condição. Em outro ponto, percebi que é preciso que façamos mais pela sociedade que vivemos. Sair da zona de conforto e realmente fazer a diferença para o mundo que vivemos. Estão aí algumas lições.
Apesar da degradação que a região sofre constantemente, ziguezaguear pela floresta tem seus encantos. E muitos. A cada rio ultrapassado, cada vale percorrido, a sensação é de que temos um lugar que vale muito por ser, apenas. A julgar seu papel no bioma mundial então. A perfeição da natureza é sublime.
Chuva na Amazônia Peruana
A Amazônia é um local que tem que ser conhecido. Até a chuva, quando deu sua graça durante a tarde, foi um motivo de reflexão. Estávamos no quarto dia de estrada e pela primeira vez presenciamos-na. O perigo da estrada molhada aumentava ainda mais o espírito de aventura que era preenchido com doses de apreensão quando a estrada era encontrada interditada em função de deslizamentos de terra. Apenas uma faixa liberada, barro sobre a pista, o ônibus sendo conduzido a poucos centímetros do morro de um lado e barranco do outro. Mal sabia eu o que ainda estava por vir.
A Cordilheira dos Andes
Fizemos uma rápida parada para o jantar na cidade de Quincemil, localizada entre a Cordilheira dos Andes e a Amazônia. Provei o chamado Menu. Consistia em uma canja de galinha, como entrada, e um Lomo Saltado, uma espécie de bife picadinho frito com cebolas, pimentão e batatas banhados com molho shoyu (eu acho), acompanhado de uma jarra de refresco, que não sei o sabor, mas relativamente gostoso. Tudo por 7 soles. Uma pechincha.
Alimentados retornamos ao ônibus para a subida da cordilheira. Devido à escuridão andina, desci até a cabine do motorista para fazer filmagens do trajeto com o auxílio dos faróis do veículo. A cabine de direção, possuía, além do banco do motorista, um acento para acompanhante e uma espécie de cama, ao fundo, para o descanso de um condutor enquanto o outro seguia ao volante. Era o único local não contemplado com ar-condicionado, sendo que as janelas permaneciam frequentemente abertas. Não demorou para que parássemos na estrada novamente. Desta vez, um deslizamento de rochas sobre a pista era o responsável pela interdição. Demoramos cerca de 40 minutos para retomar o caminho andino.
Quanto mais adquiríamos altitude, mais frio eu sentia na pequena cabine de janelas abertas. Minhas roupas? Um chinelo, uma bermuda, camiseta de algodão e um gorro de lã. Mesmo com vestimentas impróprias para a ocasião, assim permaneci até cerca de meia-noite com o consolo de que ali era possível por a cabeça para fora do ônibus e admirar um céu completamente estrelado. Tinha a impressão de que bastava erguer o braço para que pudesse ter em minhas mãos aquele brilho cativante.
Após voltar à minha poltrona, pus uma blusa de moletom e cobri-me com o cobertor que levara a tira-colo. Um cochilo de duas horas, aproximadamente, bastou para chegarmos à cidade de Cusco, único destino de embarque e desembarque durante a viagem. Para os cinco passageiros que ali encerravam seu destino, outros cinco embarcaram rumo a Lima. A cidade de Cusco era a capital do Império Inca antes da colonização espanhola. Como forma de extermínio de um cultura, os europeus destruíram-na quase toda, para reerguer outra sob as ruínas. Apesar de apenas estar de passagem. Ver um pouco da cidade era um dos meus desejos. Infelizmente, devido à escuridão da noite, pouco pude observar ou registrar.
Amanhecer na Cordilheira dos Andes
Minha frustração foi compensada ao despertar para o quinto e último dia de viagem. Ao abrir os olhos, percebi estar percorrendo o alto de uma montanha da cadeia andina. Uma paisagem deslumbrante apresentadas sobre um manto de nuvens que completavam o vale entre um e outro morro. Nada mais era possível ver abaixo, além da alva nevoa que por ali pousava. E assim seguiu-se a viagem até a cidade de Abancay, na região central do Peru.
Uma cidade grande, encrustada na cordilheira, capital da província de mesmo nome, mas que revelava uma precariedade extrema em suas construções. Assim como o restante do interior peruano, suas ruas são repletas de veículos de origem asiática, fabricados por volta da década de 90. Isso é resultado de um plano de facilidades na importação desses carros, em segunda mão, realizado pelo governo peruano, conforme contou-me sr. Luis. Foi também em Abancay que paramos para comer, às 8 da manhã (10h, no horário brasileiro). Obviamente que eu não comi nada, dada a hora. Apenas uma caneca de um chá local para amenizar a dor de cabeça causada pela altitude. Em uma pia externa, comprida, envolta em azulejos brancos, do tipo encontrado nas escolas públicas, tive a oportunidade de escovar os dentes e um banho de chuá-chuá.
Ultimo trecho da viagem
De volta à estrada, logo seguimos por um trecho ao fundo de um vale, margeando o Rio Pachachaca Abancay. Uma região de paisagens belíssimas, substituída, em seguida, por mais um trecho incrível de montanhas da cordilheira. E assim restou por todo o dia. Das 10 da manhã às 6 da tarde percorremos os 450 Km que separam as cidades de Abancay e Nazca. Com média de 30 Km/h, nosso ônibus serpenteava as subidas e descidas dos gigantes andinos. Apesar do incomodo da altitude, não tive mais do que dor de cabeça. Outros passageiros sofreram com enjoos e alguns chegaram, inclusive, a vomitar durante o percurso. O grande problema foi a fome que aplacou todos os viajantes, sanada somente às 7 da noite. Pelo caminho, pequenas comunidades com casinhas minusculas, cerca de um metro e meia de altura, construídas em pedra. Também lhamas espalhadas por vastas pastagens à beira da pista. É na região de montanhas que mais capítulos da história são retratados em nossa rota. Era na região desértica entre Puquio e Nazca que o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso escondia-se do governo nos anos 80.
Interoceânica à margem do Rio Pachachaca Abancay
Região de vale à margem do Rio Pachachaca Abancay
Inicio da subida da Cordilheira dos Andes entre Abancay e Nazca
Serpentear da Interoceânica em montanha andina
Montanhas da cordilheira
Planalto andino
Cidade de Puquio, no meio da Cordilheira dos Andes
Deserto andino próximo à cidade de Nazca
À noite, o último trecho da viagem, entre Nazca e Lima foi de reflexão sobre os cinco dias dedicados a chegar à costa do Pacífico. No caminho, a cidade de Ica já apresenta desenvolvimento e modernidade. É um sinal de que a aventura está chegando ao fim. Foram mais de 107 horas até chegar à capital peruana. Mesmo com todas as dificuldades, foi uma experiência única; certamente compensadora. Para mim, foi uito além das expectativas e, com certeza, faria-na novamente. Produzir este documentário foi muito gratificante. Tive certeza que sim. Foi possível. Eu fui capaz.
Complexo Lacomar Miraflores, em Lima (Peru)
Hoje, sinto que, de alguma forma, esta produção acadêmica, com recursos escassos e muita vontade de vê-lo acontecer, pode colaborar para a construção de novas narrativas jornalísticas. Que é possível ao jovem sair de sua zona de conforto e amassar barro, como diz o jargão dos professores de Jornalismo. Mas, principalmente, que a sociedade pode encontrar neste projeto de TCC as histórias de pessoas comuns, que assim como tantos, aventuram-se no mundo, seja por escolha, seja por necessidade. Sem dúvidas, carregarei a história de cada um que conheci para o resto da vida.
Assista abaixo ao documentário Do Atlântico ao Pacífico: a viagem de ônibus entre as cidades de São Paulo e Lima
Aos profetas do caos, tenho uma notícia que pode deixá-los desapontados, mas que, em certo sentido, é boa.
A ÁGUA NÃO VAI ACABAR!
Diferentemente do Petróleo, recurso mineral não renovável, a água é um elemento que não se perde (em termos).
Bem, não sou nenhum especialista no assunto. Sou da área de humanas e sempre fui fraco em Física (Química nem tanto), mas uma coisa que me lembro, lá dos tempos do Primário, é do ciclo da água. Lembram?
A chuva chove [mentira, isso é redundância e, segundo o profº Fatigas, só o Jorge Ben pode chover a chuva], a água fica na terra, depois evapora com o calor e, por conseguinte, as moléculas se juntam formando nuvens que, por fim, resultam em chuva novamente. Portanto, por ser um elemento de fonte renovável, a água não vai acabar.
O Brasil sempre foi um país riquíssimo em recursos hídricos. Diziam até que tornaria-se o novo EAU, mas, em vez de petróleo, a água seria o bem de valor. Acontece que, com a certeza deste futuro, nossa Administração Pública sempre escanteou o assunto. Digo muito que a situação na Região Metropolitana de São Paulo está caótica hoje em função da campanha de reeleição do governador Geraldo Alckmin, em 2014. Bem; é também. Mas a questão é muito mais ampla.
Como disse, a água é um elemento que não se perde, no entanto, devido a alguns fatores, torna-se imprópria para o consumo social. Segundo levantamento realizado em 2012 pelo instituto Trata Brasil, somente 41,32% do esgoto das 100 maiores cidades do país é tratado. A taxa para todo o território nacional é ainda menor, tratando apenas 38,70% de seus esgotos.
Esse é um exemplo de como o governo é leviano na administração da água. Na maioria dos casos, esses esgotos desembocam em rios de nascentes limpas, como no maior rio do estado de São Paulo, o Tietê. Assim, a perda desse recurso torna-se ainda maior. A culpabilização da população para o desperdício de água é apenas mais uma manobra do poder público para esconder sua displicência histórica ao assunto. Resta saber até quanto eles terão condições de lavar suas mãos para o problema.
Não sei se sou apenas eu, mas vejo a situação do atual governo Dilma Rousseff com tanta semelhança à do presidente Garrett Walker, na segunda temporada de House Of Cards, que chega a ser ridícula, caso seja essa mesma. Será que Dilma não assistiu House Of Cards???
Vamos aos pontos:
Medidas anti-trabalhistas Em House Of Cards, o governo aprovou a reforma previdenciária que elevava a idade para se aposentar, luta de anos pelos conservadores do partido Republicano, aprovada a partir de um grande lobby do vice-presidente, Frank Underwood, mesmo com rejeição prévia de seu partido, Democrata (progressista). No Brasil, vimos, à sombra dos fogos de réveillon, uma série de mudanças nos direitos trabalhistas, reduzindo-os ou limitando-os. (Aqui, ainda incluo a indicação da equipe econômica com fins de agradar o mercado financeiro, alinhando-se à proposta da oposição de austeridade e aumento de impostos)
Fim de antiga aliança Na série do Netflix, o presidente Garrett Walker rompe sua aliança com o antigo conselheiro, seu amigo Raymond Tusk, por influência e manobras do vice-presidente Frank Underwood. Em Brasília, segundo a ex-Ministra Marta Suplicy, Lula, grande conselheiro e padrinho de Dilma, não a influencia mais e tem pouco contato com a atual presidenta.
Crise de abastecimento Em House Of Cards, o governo norte-americano tem de enfrentar uma grande crise de abastecimento de combustíveis para o setor de energia elétrica, causando, inclusive, um apagão no país em um dos episódios. Por aqui, não preciso citar a crise na Sabesp, Petrobrás e Eletrobrás.
Influência sobre a Câmara Nos episódios da série norte-americana, o vice-presidente, Frank Underwood têm grande influência sobre a Câmara, sendo o principal articulador de bases e responsável por travar ou destravar a votação (nesse caso, age sempre a partir de seu interesse particular). Já nos bastidores da capital brasileira, Michel Temer, que já foi presidente da Câmara dos Deputados, mantém ainda muita influência no Congresso Nacional. Seu partido, PMDB é um dos maiores em representação parlamentar e detém a presidência das duas casas legislativas.
A segunda temporada da ficção do Netflix, House Of Cards, têm como mote principal a escalada do vice-presidente dos Estados Unidos, Frank Underwood, rumo ao posto mais alto do país, a presidência dos E.U.A., culminando com processo de impeachment no Congresso e a renúncia do presidente Garrett Walker no último episódio, levando Underwood ao posto. Pelo andar da carruagem, com a restrição de direitos trabalhistas, plano de austeridade econômica com aumento dos juros e impostos, perda de capital político, escândalo da Petrobrás e crise de abastecimento, estaria o governo Dilma Rousseff caminhando para o segundo impeachment em menos de 30 anos de redemocratização do país?
Em 2013, ouvi de uma pessoa ligada à imprensa esportiva que o Milton Neves não era mais jornalista esportivo desde os anos 70. Que hoje vive de passado e de propaganda; sua especialidade. Realmente, a meu ver, a veiculação de Milton na mídia brasileira é mais um engodo do que fonte de informação. Mas há momentos em que ele consegue ter papel importante para o esporte nacional. Como foram estas entrevistas com os candidatos à presidência do Corinthians.
Roberto de Andrade saiu-se melhor na entrevista. Foi o único a falar efetivamente do futebol corinthiano e também dos gabinetes do clube. É também o candidato com mais chances de vencer.
O Citadini, muito diferente do que já foi, falou, falou, falou e não disse a que veio. Falou mais das conjecturas políticas do que sobre o esporte.
Ainda um Ilmar podado por um Milton Neves que nem o conhecia. Durante os 8 minutos de sua entrevista (os outros tiveram cerca de 20 minutos no ar), teve que comentar até sobre a execução do traficante de drogas brasileiro na Indonésia. Também não falou de futebol.
Aposta
Por fim, apesar de ser um nome conhecido, principalmente por suas entrevistas caricatas, Citadini não leva. Vai ficar com R. Andrade que vai preparar o terreno do clube para a volta de Andrés Sanches em 2019. Esperava mais de um desconhecido Ilmar, mas parece-me que ele está resoluto quanto à derrota iminente e garante sua candidatura apenas em respeito aos sócios que o apoiam.
As eleições serão no primeiro final de semana de fevereiro, dia 7, às vésperas do jogo contra o Palmeiras e do Carnaval. Agora é esperar para saber que grupo vai sambar a folia corinthiana e quem vai antecipar sua quarta-feira de cinzas. De qualquer modo, teremos uma boa disputa nas eleições diretas do clube.
Ouça as entrevistas feitas por Milton Neves no Domingo Esportivo da Rádio Bandeirantes: