sábado, 9 de maio de 2015

Um fato - várias formas de dar a notícia

Imagine um jantar com políticos e grandes empresários do país. Uma cena mais comum do que se pode imaginar. Reuniões desse tipo acontecem muito antes da Proclamação da República. Não há nada de ilegal nisso. Contudo, dependendo dos personagens envolvidos, a maneira de dar a notícia muda. Veja a imagem abaixo.

Alerta: essa manchete é falsa. Uma sátira de como o jornalismo brasileiro se porta conforme o personagem.


A colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, publicou na última sexta-feira, a reunião promovida pelo atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com políticos e empresários a fim de promover sua campanha à Presidência da República em 2018. A manchete "Pré-candidato, Alckmin reúne PIB em jantar no Palácio dos Bandeirantes" indica o prestígio do político ao reunir alguns executivos das maiores empresas do Brasil, responsáveis por grande parte da produção nacional.

Nota-se na matéria que entre os empresários estão Marcelo Odebrecht e Jorge Gerdau. O primeiro é executivo da empreiteira Odebrecht, denunciada pelo Ministério Público Federal na Operação Lava-Jato, escândalo de corrupção envolvendo esquemas de propina para contratos com a Petrobras. O segundo responde pela empresa de aço Gerdau, investigada na Operação Zelotes, da Polícia Federal, que apura esquemas de fraudes fiscais milionárias. No texto, não há nenhuma referência a isso.

A bem da verdade, como já disse no início deste artigo, reunião de políticos com empresários é algo bastante comum. Não há nenhum crime nisso. A questão a ser observada é quanto ao tratamento que a grande mídia dá a um ou outro personagem. Façamos um exercício de suposição, no qual, em vez de Alckmin, o promotor do jantar fosse o ex-presidente da República, Lula, também pré-candidato, à sucessão de Dilma em 2018. Como será que seria a manchete da notícia de um jantar entre Lula e os mesmos empresários, com fins de promover sua candidatura para as próximas eleições nacionais?

Apesar de tudo, minha mãe acha que a Globo defende o PT

Um outro exemplo segue em uma conversa despretensiosa entre este blogueiro e sua mãe. Assistindo ao SPTV 2ª edição, noticiário local da TV Globo, vemos uma reportagem sobre o descarte ilegal de lixo na cidade de São Caetano do Sul, na Grande SP. Um fato relevante que certamente deve ser noticiado. Mas algumas coisas foram possíveis de serem observadas. Durante os quase cinco minutos de vídeo, o repórter indica que a prefeitura respondeu; que a prefeitura já retirou o lixo do local; entre outras ações da prefeitura.
Em nenhum momento foi citado o nome ou partido do prefeito.

Ao fim da reportagem, perguntei para minha mãe sobre qual partido ela achava que o prefeito de São Caetano do Sul pertencia. Sua resposta foi taxativa: PT. Perguntei então se ela havia ouvido o nome do prefeito e seu partido durante a reportagem. Respondeu-me com a negativa já esperada. Por fim, questionei-na o por quê ela acreditava que o chefe do Executivo daquela cidade era do PT. Disse-me que a Globo defendia o PT e que por isso omitira a legenda. Falei então que, apesar de eu não saber a qual partido o prefeito pertencia, tinha certeza que ou era PSDB ou PMDB e que se fosse do PT, o nome do partido teria aparecido, pelo menos, três vezes na reportagem. Ela, com desdem, duvidou. Após uma pesquisa na internet, a confirmação: Paulo Pinheiro é do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Uso esse exemplo para mostrar como a forma de dar a notícia influi na concepção do público leigo, que não vivencia o jornalismo ou a política. O repórter noticiou o fato de haver descarte de lixo em local indevido. Não havia ali nenhuma mentira. No entanto, a maneira como uma notícia foi tratada, reflete em como a sociedade enxerga sua volta. Alguns dias depois de nossa conversa, minha mãe voltou ao assunto, dizendo que, em uma outra reportagem, percebeu o que eu havia dito. Ao tratar de um problema em um hospital da cidade de Osasco, administrada pelo PT, o nome da legenda apareceu na notícia mais de uma vez, segundo ela. Essa percepção só foi possível após um diálogo que nem todos tem em suas casas, no trabalho ou no botequim. Assim, a mídia versa com a sociedade à maneira que mais lhe convém.

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Ps. Repito mais uma vez, para que não pareça que a ideia aqui é defender o PT: reunião entre empresários e políticos, como Alckmin o fez, é um evento extremamente comum. Não há crime ou contravenção nisso. O aspecto a ser observado nesse post é quanto à condução da imprensa ao tratar de um ou outro personagem.

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