domingo, 20 de abril de 2014

Quando o futebol deixou o povo

Não sei a quantas andam as finanças do Atlético Mineiro, nem o porquê o Galo não mandou o jogo no Independência. No entanto, esse preço absurdo cobrado pelo time mineiro pelo ingresso do jogo, 80 reais, é o reflexo do estádio vazio. Perdoem-me os otimistas e entusiastas, mas sou do tempo em que o preço do ingresso para um jogo de futebol não era mais caro do que uma entrada a um teatro, até mesmo, uma sessão de cinema. Por quê??? Porque o futebol, com o tempo, tornou-se um esporte popular; tornou-se a opção de lazer para todos; todas as classes, cores e credos. Querer transformar o futebol em uma atração para a elite é promover a concessão à TV. Isso significa que, para o povo, assistir o futebol, a cada dia mais, só sera possível pela TV.

Não sei se é mais interessante para o time mineiro ter 50.000 pagantes a 30 reais ou 15 mil a R$ 80,00. O que sei é que, com o futebol moderno, esse que a mídia idealiza, almeja e enaltece, o povo vai sair dos estádios de futebol. O povo; como povo heterogêneo, miscigenado, de várias classes, credos e cores.

Quem poderá frequentar um estádio/arena de futebol será a alta classe que está querendo tomar para si o esporte que, nos idos do século XX, a ela pertencia, e que, com o tempo, caiu nas graças - e no seio - do povo. Ah, sim, sabe quem frequentará, também, os espetáculos do futebol medíocre brasileiro? As torcidas organizadas. Esses bandidos, vândalos e marginais, como a mídia os trata, não cederão o osso. Não cederão porque, antes de terem para si todos os adjetivos que rodam em programas televisivos, das mais diferentes formas, os integrantes das organizadas são apaixonados. São seres que movem mundos e fundos para torcer, para ter um momento de distração do mundo real; melhor, para realizarem-se por meio de uma vitória do time do qual são fans. Não largarão o osso, pois, em muitas vezes, esse é maior momento de felicidade desses pobres seres; marginais. Porém, marginais em função de o futebol estar marginalizando-os. E está nos marginalizando também. Mantendo-nos longe dos estádios.

Referi-me ao valor de uma peça de teatro e de uma sessão de cinema no início deste texto pois é sabido que os preços praticados atualmente não permitem que grande parte da população consuma esse tipo de entretenimento. A solução para sanar esse déficit é a novela; a tela-quente, ou similares da TV brasileira. Para o futebol o caminho está sendo desenhado. A Brahma, a Skol, a Friboi e, principalmente, a televisão agradecem a compreensão dos brasileiros. Felicitem-se ao reunir amigos para fazer um churrasco e assistir o futebol. É isso o que eles desejam. É isso que nos sobrará!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Beijinho no ombro pro recalque de plantão



A Academia é extremamente conservadora e sentiu-se ofendida por um professor defini-la como "grande pensadora contemporânea". Ora, vejamos o o que está por trás da questão:

Hoje há um grande debate nas diversas mídias sobre esse assunto. Debate esse que, segundo o professor responsável pela prova, foi iniciado ainda em sala de aula, onde foi discutida a atuação da imprensa e o papel dela na sociedade. Pergunto: isso não é assunto a ser tratado em um curso de Filosofia? Por que é necessário que a Filosofia seja tratada, ainda, como reprodução de pensamentos milenares? Por que não podemos pensar sobre nossa atualidade segundo as vozes de nosso cotidiano? Os porteiros, os médicos, os balconistas das padarias, os advogados, os cobradores, os engenheiros - ah, e sim, e as porteiras, as médicas, as balconistas das padarias, as advogadas, as cobradoras, as engenheiras -, etc. Todos somos seres pensantes, e, como tal, somos possuidores da capacidade de adquirirmos conhecimento segundo nosso dia-a-dia; segundo nossas experiências.

Talvez, na atualidade, as músicas que mais tratam e discutem a realidade da sociedade brasileira são o Rap e Funk. Esses dois estilos musicais, marginalizados anos atrás, hoje, cada vez mais, estão atingindo as mais diversas classes econômicas. São aliás, o retrato da MPB, que outrora era composta por artistas como Chico Buarque, Ivan Lins, Oswaldo Montenegro, etc. Sim a "Música Popular Brasileira" hoje é o Funk; é o Rap. É também o Forró, o Sertanejo, o Samba. (Os conservadores de plantão podem ficar com urticárias ao ler isso, mas essa é a Música Popular Brasileira, pelo menos na atualidade.)

Ainda que a proposta incutida na questão "segundo a grade pensadora contemporânea, Valesca Popozuda, se bater de frente:" seja provocar a mídia e discutir os conceitos de noticiabilidade da imprensa, levar à prova um trecho da música da funkeira não é nenhum absurdo se pensarmos na repercussão que o lançamento da música teve na própria mídia nacional.

A hipocrisia e o conservadorismo da sociedade foram estampados, nas diversas mídias, nesta semana, em função de uma questão de prova de filosofia de uma escola pública de uma cidade satélite de Brasilia. Parabéns ao professor que, de maneira sagaz, conseguiu muito mais audiência do que a que queria para a exposição de fotografias de seus alunos e ainda convidou o país a pensar a imprensa, a educação e a cultura nacional. No melhor estilo Valesca Popozuda, mandou um #BeijinhoNoOmbro pro recalque da sociedade brasileira.