quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A repentina carta de demissão de Marta Suplicy

O pedido de demissão da senadora Marta Suplicy do Ministério da Cultura levanta questões que vão além de sua própria saída do Executivo Nacional. Adota características peculiares à personalidade da ex-prefeita de São Paulo e à sua condição dentro do cenário político atual. Durante seus dois anos à frente da Cultura, teve liberdade para implantar políticas de inclusão por meio de projetos de sua pasta, garantindo notoriedade com a criação do Vale-Cultura. Deve-se, no entanto, rememorar as condições que a levaram à Explanada dos Ministérios.

No início de 2012, Marta Suplicy considerava-se candidata natural do Partido dos Trabalhadores à disputa pela Prefeitura de São Paulo. Já havia ocupado o cargo entre 2001 e 2004 e acabara de assumir uma vaga na Câmara Alta do Congresso Nacional, sendo a senadora mais votada no Estado em 2010 (o senador Aloísio Nunes, PSDB, ficou com o segundo lugar no escrutínio, superando Netinho de Paula, PC do B, que aparecia na frente nas pesquisas até a eleição). No entanto, viu seus anseios sucumbirem quanto Lula indicou seu ex-Ministro da Educação, Fernando Haddad, à intentada contra José Serra e Celso Russomano. Como uma forma acalmar os ânimos da petista, Lula orientou a Dilma que indicá-se-a como titular da pasta da Cultura, em substituição a Ana de Hollanda que fazia uma administração apagada, em relação ao grande público, porém catastrófica, junto ao meio artístico.

O afago do PT a Marta não eximiu sua vontade de voltar a ser chefe do Executivo, lançando-se, dentro do partido, como possível candidata ao Governo de SP. Novamente, Lula indicou um de seus pupilos, Alexandre Padilha, ex-Ministro da Saúde, frustrando novamente a ex-prefeita que rebelou-se. Não atuou durante a campanha no Estado e escondeu-se da propaganda de Dilma à reeleição. Foi, ainda, uma das defensoras do "Volta Lula" em 2014 e chegou a discutir com Ruy Falcão, presidente de seu partido, por dar mais espaço a Antônio Carlos Rodrigues, do PR, seu suplente no Senado, que a ela em um comício na zona sul de SP, reduto eleitoral de Rodrigues.

É preciso lembrar que Marta, assim como a atual presidente da República são mulheres de gênio forte, centralizadoras e turronas. Quando prefeita da capital paulista, Marta Suplicy não teve reticências ao adotar medidas impopulares, como a implantação da taxa do lixo e da iluminação pública. Ainda, criou um grande embate com empresas de transporte ao decidir regularizar os serviços de vans, então clandestinas. A classe média, junto aos empresários, entrou em polvorosa. Nem a criação do Bilhete Único, benefício aos usuários do transporte público foi capaz de alçá-la à reeleição.

Hoje, Marta Suplicy deixa o Ministério para assumir sua cadeira no Senado Federal e disputar, em especial com Serra, o espaço de principal senadora do Estado de SP. Enxerga, com essa atitude, a possibilidade de obter capital eleitoral à disputa do Executivo municipal em 2016 ou ao governo estadual em 2018. Afinal, não é só "a Economia, estupido"*, conforme saltou-se aos olhos sua recomendação à Dilma de criar um equipe econômica "independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade", relatada em sua carta de demissão.

* "É a economia, estupido!" foi uma frase criada por James Carville, assessor de campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos em 1992. Tornou-se slogan da campanha de Clinton contra a política econômica de George Bush (o pai) que levara os E.U.A. à recessão no início da década de 90.

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