Nesta quarta-feira (31/01), o instituto Datafolha divulgou o resultado da pesquisa de intenção de votos para a corrida presidencial 2018. O levantamento apresenta alguns possíveis cenários para o pleito em outubro. Nomes que concorrem dentro do mesmo partido, outros que ainda não são filiados, mas cortejados por partidos para entrar na disputa, além dos dois personagens que polarizam o grande debate eleitoral até o momento: o ex-presidente Lula (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC - está migrando para o PSL). O resultado, entretanto, mostra além da liderança. Nesse sentido, Geraldo Alckmin (PSDB), Luciano Huck (Sem Partido) e Ciro Gomes (PDT) surgem como os grandes nomes desta pesquisa.
Com a condenação de Lula, em segunda instância, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, muito dificilmente o nome do indicado pelo Partido dos Trabalhadores irá aparecer nas urnas. Felicidade de uns e revolta de outros, esse é o cenário a ser considerado para se observar. (Registre-se, entretanto, a liderança de Lula em todos os cenários em que seu nome é apresentado como concorrente, oscilando entre 34% e 38%.)
Nos cenários sem a figura de Lula, é Jair Bolsonaro quem lidera as intenções, oscilando entre 18% e 20% da preferência dos entrevistados. Apesar disso, tem grandes chances de ser engolido pelos intermediários. Bolsonaro é um militar da reserva e está em seu quinto mandato parlamentar. Conquistou grande parte de seu eleitorado com discurso conservador e de moralidade impecável. Assim tem se apresentado desde 2016, quando iniciou sua intensiva rumo à candidatura presidencial. Entretanto, com a chegada do ano eleitoral, passou a sofrer denúncias sobre o crescimento de seu patrimônio e de sua família e sobre a contratação de uma servidora fantasma que vende açaí em Angra dos Reis - RJ.
Como já se viu ao longo da história recente da política nacional, o desgaste político causado por tais denúncias podem alterar completamente as condições de cada candidato. Vale se lembrar da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que, ao fim de 2001, chegou a estar tecnicamente empatada com Lula, mas viu sua candidatura minguar ao longo do ano seguinte após denúncias de corrupção na empresa de seu marido e, por fim, desistiu de sua pré-candidatura.
Mas tais ofensivas não tratam apenas de corrupção. As propostas também podem fazer com que o tiro saia pela culatra e a candidatura passe a sofrer ataques fulminantes. Marina Silva (Rede) é um bom exemplo disso. Surgiu apresentando-se com alguém de fora da "velha política", como gostava de dizer. Chegou a liderar as intenções de voto em 2014, mas durante a propaganda eleitoral, passou a sofrer ataques do PT e PSDB, acerca de seu programa de governo. Com estrutura eleitoral inferior para se defender, ficou pelo caminho ao conquistar 21% dos votos, patamar semelhante à sua primeira candidatura em 2010. Estagnou.
Esse é um fatos que também joga contra o ex-militar. Sua estagnação na comparação dos cenários com e sem a presença de Lula. No melhor quadro sem a presença do ex-presidente, Bolsonaro cresce apenas quatro pontos percentuais, segundo a pesquisa. O deputado é um fenômeno na internet e conseguiu capitalizar seu eleitorado exatamente nesta plataforma. No entanto, entra na disputa em um partido considerado nanico. Se manter sua promessa de não fazer alianças de cunho estritamente eleitoral, terá cerca de 10 segundos de televisão - assim como Marina Silva - para promover sua campanha para o grande público e defender-se dos ataques que surgirão. E é aí que surge a vantagem de Alckmin, Huck e Ciro.
Musculatura de Campanha
A pesquisa Datafolha apresenta, em um de seus cenários, sem a presença de Lula, Bolsonaro com 18%, Marina com 13%, Ciro com 10% e Huck e Alckmin com 8% das intenções de votos cada. É esse o que mais chama atenção. O apresentador de TV, Luciano Huck, não é candidato e já afirmou em artigo publicado no ano passado que não será. Ainda assim, continua sendo cortejado pelo PPS para disputar a presidência. Também voltou a falar sobre política abertamente no programa Domingão do Faustão, da TV Globo. Ao se ver com respaldo eleitoral nas pesquisas, pode ser seduzido pela possibilidade e aceitar o convite.Huck, caso se candidate pelo PPS, não terá a maior estrutura estrutura eleitoral entre os postulantes, mas conta com a vitrine que a TV aberta lhe concede há cerca de 20 anos. Seu carisma e o assistencialismo verificado em seu programa nas tardes de sábado, na Globo, são capitalizadores do carinho da população. Segundo pesquisa realizada pelo barômetro político Estadão-Ipsos em novembro do ano passado, Huck é a personalidade com maior aprovação dentre os 23 nomes contidos na lista. Obteve 60% de reações positivas por parte dos entrevistados. Além disso, tem bom trânsito entre o empresariado e o mercado financeiro.
Não é de se duvidar que vai receber ataques de seus concorrentes e terá trabalho para saná-los. Mas os fatores positivos, além de ser alguém que vem de fora da política, tão desacreditada pelos escândalos de corrupção recentes, creditam a Huck a possibilidade de crescimento nas intenções de voto conforme realiza sua campanha.
Por outro lado, com a exclusão da figura de Lula na disputa eleitoral, o candidato do PDT, Ciro Gomes, que já apresenta vantagem sobre Huck e Alckmin, tende a conquistar para si, parte do eleitorado do petista. É exatamente essa a principal estratégia de Ciro para alçar voos maiores à sua candidatura. Conquistar setores progressistas moderados para colocar-se como antagonista principal à figura de Jair Bolsonaro e seu conservadorismo. O PDT tem sido aliado do PT nos últimos governos e conta agora com a retribuição do combalido partido de Lula para dar musculatura à campanha e capitalizar mais partidos para uma coligação que garanta bom tempo de TV a Ciro. Dessa forma, tem grande possibilidade de chegar ao período oficial da propaganda eleitoral com números superiores ao atual e se tornar um dos principais candidatos e superar o quarto lugar conquistado nas eleições presidenciais de 2002.
Entretanto, o nome que mais deve se desenvolver ao longo do ano, principalmente durante a campanha eleitoral, é o de Geraldo Alckmin. O atual presidente do PSDB é o candidato certo do partido, ainda que João Doria rivalize com seu mentor, veladamente, o nome na urna eleitoral pela legenda. Alckmin traz consigo não só o capital político conquistado ao longo de três mandatos e meio à frente do governo de São Paulo, mas também toda a estrutura de seu partido. Muito provavelmente, terá, ainda, o apoio do PMDB, que deve aos tucanos o apoio prestado nos últimos dois anos, desde que Michel Temer obteve o poder.
É com a força de dois dos três maiores partidos do país que o governador de São Paulo virá para o pleito. Sem dúvidas será o candidato com maior tempo de TV, graças às coligações que está articulando. Além disso, caso consiga levar para si o partido de Temer, terá todo o peso da máquina pública federal a seu favor. Ainda que hoje figure na rabeta dos principais nomes da disputa, crescerá substancialmente conforme a campanha se avizinha. A título de exemplo, lembremos de como Doria, seu afilhado político, aparecia com o modestíssimo 1% de intenção de voto na eleição para a prefeitura de São Paulo. Ao fim da campanha, papou o cargo ainda no primeiro turno.
Muita água ainda vai rolar até o dia 7 de outubro, data marcada para o primeiro turno das eleições presidenciais. Candidatos vão surgir, outros desaparecer. Alianças serão formadas e o desenho pode se modificar a cada instante, durante a campanha, a cada delação, sentença ou notícia de jornal, tão somente. Mas, observando hoje a pesquisa publicada, Alckmin, Huck e Ciro são os grandes nomes desta eleição. Basta saber como cada um irá aproveitar suas oportunidades.
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