No ano inicio dos anos 90 as coisas não eram como hoje. Não havia uma televisão em cada cômodo da casa. Na sala, as atenções da família se voltavam para aquela tela de tubo aos domingos de manhã. Não ouvíamos falar de Ferrari. A grande Scuderia não era o que nos atraia para a frente da TV. Era outro carro vermelho que chamava a atenção. Vermelho e branco; com um logo dos cigarros Marlboro que o tornava inigualável. Aquele capacete amarelo com uma listra verde e outra azul, daquilo me lembro bem. Como esquecer? A última volta, já com a corrida encerrada, pilotando com apenas uma das mãos; a outra levantada, com a bandeira do Brasil em punho, lembrando da sua terra tupiniquim no esporte dos milhões. Essa imagem eu consegui ver algumas vezes, em cores da TV, enquanto um som era emanado dos auto-falantes do aparelho. Um tan-tan-tan inesquecível, que chega a arrepiar cada vez que é tocado novamente nos últimos 20 anos.
Vocês podem achar estranho eu relatar isso se nasci em 1989. De certo, em 93, tinha apenas 3, 4 anos. Sim, era essa minha idade, mas as memórias são reais. Tão reais quanto o meu estranhamento em ver aquele capacete amarelo, verde e azul, em um carro diferente no ano de 1994. Aquele carro azul... Aquela Williams. Pelo que tinha acontecido em 94, a minha reação quando o piloto Jean-Jaques Villeneuve perdeu o campeonato em 1997 foi de alegria, mesmo tendo acontecido por um jogo sujo do Schumacher, com sua Benneton. Fiquei feliz porque ele perdeu com a Williams. Perdeu com aquele carro azul. Ah, como eu odiei aquele carro azul. "Devia ter ficado com o vermelho", eu disse dias após o acidente que levou o cara.
Em 1º de maio de 1994 eu não compreendi o que havia acontecido com a Williams de Senna. Aliás, por anos fiquei sem entender o porquê ele não tinha feito a curva; o porquê ele havia batido; e partido. Em 4 de maio de 1994, eu descobri o que é se emocionar; descobri o que é chorar sem ter levado uma chinelada de sua mãe por ter feito uma arte. Aquela quarta-feira não sairá de minha memória. Com os olhos crivados na TV, as imagens da TV Globo de uma Avenida Morumbi silenciosa e de um Cemitério Morumbi lotado de anônimos, de famosos, e daquele carrinho elétrico carregando o caixão com o corpo de Ayrton Senna, ficaram eternizadas em minha mente. Embora triste, com sorte, para mim, aquela foi a despedida apenas do corpo de Ayrton, pois da alma dele e do espirito vencedor do nosso campeão eu nunca me despedi.
Sempre, Ayrton Senna do Brasil!
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